Economia

Acertando na mosca: Porque escolhemos CDBs pré-fixados, Debêntures e a queda do dólar em 2016!

Acertando na mosca: Porque escolhemos CDBs pré-fixados, Debêntures e a queda do dólar em 2016!

Do início ao fim de 2016 nossos clientes puderam observar uma clara tendência na indicação de ativos por parte de nossos assessores de investimento. Havia muito CDB pré-fixado de médio e longo prazos e debêntures incentivadas nas carteiras de renda fixa. Para a renda variável, optamos pela aposta na queda do dólar. Houve momentos em que nossa convicção até foi confundida, por leigos, com interesse próprio. Porque acreditamos tanto (e acertamos em cheio) em 2016? Vamos começar pelo começo:

No início de 2015 tínhamos uma situação adversa pela frente: Dilma Rousseff havia ganho as eleições de forma, no mínimo, conflitante com seu plano de governo, fazendo com que a confiança do empresariado e do investidor minguasse ainda mais e fortalecesse a recessão que se iniciava. A inflação medida pelo IPCA rompia os 7% anuais e a SELIC era de 11,65%. Isso nos trazia um juro real (juro descontando a inflação) de 4,21%, valor consideravelmente acima da média dos últimos 10 anos. No entanto, o que observávamos não era somente a relação Inflação x PIB x Juros e sim a expectativa de juros dos mercados futuros de DI. Os juros futuros com vencimento em janeiro/19 (DI1F19), janeiro/20 (DI1F20) e janeiro/21  (DI1F21) estavam no radar. Nessa mesma época o DI para Janeiro de 2021 apontava um juro real de 4,44% perante a inflação corrente. Note no quadro abaixo o histórico recente do IPCA, taxa SELIC e DI 2021.


Através desse quadro conseguimos notar uma série de questões:

1º SELIC subindo para acompanhar e tentar frear a inflação na primeira metade de 2015. Na segunda metade em diante, a taxa de juros básica da economia se mantém estável, no entanto a inflação continua evoluindo forte até outubro. Em novembro e dezembro a inflação estabiliza e dá sinais de fim do seu ciclo de alta.

O fato de termos IPCA de 2 dígitos somado à recessão econômica , umas roubalheiras a mais e às péssimas expectativas para 2016 geraram uma grave crise política. Com as contas públicas em desordem, escândalos de corrupção e previsões negativas para os anos seguintes, o Brasil passou por uma série de rebaixamentos de rating por agências classificadoras de risco. Isso nos leva ao segundo aspecto visível no gráfico.

2º Juros futuros acima da SELIC. Nota-se no segundo semestre de 2015 que o juros futuros dispararam, ultrapassando muito a SELIC vigente. Isso raramente acontece. Nessa proporção, não havíamos visto. O comportamento típico de um país emergente como o nosso, em termos de taxas de juros, é uma constante tendência de queda de juros com algumas altas pontuais em momentos de crise. Como já tínhamos a SELIC estável após um forte ciclo de alta, recessão, desemprego, crise de confiança e N outros fatores, a probabilidade maior era a de estarmos no fundo do poço (em termos de expectativa, não em desemprego e recessão econômica) e isso tornava o comportamento de evolução dos juros futuros bastante emocional, quase exclusivamente vinculado à desesperança no país. O mesmo acontecia no dólar, cotado acima de R$4,00.

O quadro abaixo demonstra a evolução da Taxa SELIC Meta ao longo dos anos:


Ao final de 2015 o IPCA já não subia como no início do ano, mas ainda havia uma certa dificuldade em controlá-lo, principalmente devido à desvalorização do real (causado pelo fluxo de saída de capitais do Brasil mediante aumento do risco-país) e aos reajustes dos preços administrados (que foram postergados para manter a popularidade do governo durante o ano eleitoral de 2014).

2015 se encerrava como um ano para esquecer… Isso porque ainda não tínhamos vivido 2016.

Para 2016 tínhamos 4 certezas e uma expectativa: Queda da inflação; Queda da SELIC; Queda do dólar; Recessão econômica e desemprego. A expectativa?

A queda do dólar.

Os juros DI apresentavam uma diferença muito acima do aceitável perante os juros correntes e por pior que o Brasil estivesse, os juros não subiriam a patamares de 17% anuais (pois tornaria a grande dívida brasileira impagável e estávamos em um processo de recessão surreal). Na renda fixa, surgia a oportunidade da década!

Fechamos 2015 e iniciamos 2016 gritando aos 4 ventos: COMPREM CDBS PRÉ-FIXADOS DE 3 A 5 ANOS!!!

E a recessão nos gritava ainda mais alto: NÃO ESQUEÇAM DAS DEBÊNTURES!!!

Além do aumento das taxas pagas por CDBs (os quais contam com a garantia do FGC), a perspectiva de fracasso da política monetária criava uma grave distorção na precificação das debêntures de infraestrutura (as quais são isentas de imposto de renda para pessoas físicas). Negociando em mercado secundário, conseguimos vários ativos de ótima qualidade com garantias reais sendo vendidos por preços abaixo do que consideraríamos justo, muito devido à expectativa de que a recessão acertasse essas empresas. Após análises de cada um dos casos, selecionamos alguns ativos específicos e… Fomos às compras!  

Por: João Guilherme Penteado

04/01/2017